domingo, 3 de abril de 2011

Cada gesto conta

- por Nanda


Às vezes pensamos que jogar um papel de bala no chão não fará mal nenhum. Mas com o 'ciclo da vida', eventualmente, todos os papéis de bala já jogados poderão ser a causa de uma enchente, matar pessoas de doenças, fazer famílias ficarem desabrigadas e perderem todos os seus bens. Essas reações em cadeia são comuns mas nem sempre são ruins. Cada gesto conta. Cada pequena coisa que você faz trará uma consequência boa ou ruim. E é com essa pequena introdução que eu apresento uma história do 'dia de dedicações' do Tumblr.
Hoje é dia do Post dedicado né? Podem estranhar esse meu post por não ser parecido com os outros. Tem 14 dias que a minha vó faleceu. Não quero que sintam pena de mim, pelo contrário. Quero vir aqui mostrar o quanto a minha avó foi especial. Eu me orgulho pelo simples fato de ter compartilhado o mesmo sangue, a mesma família. Minha avó não teve uma vida perfeita, foi apaixonada por um cara a vida inteira (meu avô, sim) Só que ele nunca deu a mínima, traía e ela sabia .. e no caso, aceitava por amá-lo. Foi o único cara que ela amou, beijou e teve 3 filhos. Não conheceu mais nenhum. Talvez esse meu orgulho por ela. Mas não só isso, ela sempre recebia todos na casa dela com cada comida diferente pra cada neto. Meu avô sempre dizia “Acho isso um absurdo” e a gente ignorava, pedia pra ele parar. Até que minha avó ficou doente e foi descoberto um câncer no intestino. Teve que ficar 1/2 meses no hospital pra decidir qual seria o tratamento. Meus tios trabalham e o chefe não liberava fácil. Então, quem ficava com ela no hospital era eu e minha mãe. Das 7 da manhã até as 8 da noite. Faltei aula praticamente por semanas. Me arrependia enquanto estava lá. Mas hoje garanto que foram as semanas mais incríveis que eu tive. Dava comida pra ela, via filmes .. mimava mesmo. Ela já sabia que o fim não demoraria muito (A mãe dela morreu com a mesma idade e com a mesma doença) e minha avó nunca foi boba. Eu lembro direitinho, quando eu ficava lá com ela todos os dias e pegava ela me olhando .. aí eu perguntava o que ela queria e ela dizia “só te olhar”. Isso mexe comigo até hoje. Mas a esperança gritava “Calma, ela não tá ótima? É logico que ela vai superar”. Sim, ela operou. Tirou tudo .. e o médico disse “Não dou 3 dias pra recuperação dela. Ela é sensível.” PRONTO. Aquela esperança já não existia mais. E então eu pedi pra olhar como ela tava. E ela já estava entubada, não via nada. Só ouvia. Cheguei bem perto, ela sentia, o coração dela tava 98 e sempre que eu chegava ia pra 114 .. ela sabia que eu estava ali chorando e isso mexia com ela. Tive que sair, o médico falou que isso afetava. Só pedi um tempo pra ele e foi quando agradeci por tudo e disse que aqueles dias foram os melhores. Não pude falar muito, as lágrimas não deixaram. Mas eu vi a cabecinha dela mexendo e pra mim bastou. Voltei pra casa arrasada e com uma ligação dizendo que ela não resistiu. Eu nunca tive uma perda dessas na vida. Minha mãe diz “Maria, a vida não é só coisa boa, festas, saídas e shoppings .. a vida é dura.” E hoje eu vejo o quanto isso me abriu os olhos pra vida. E a moral disso tudo? Dê valor enquanto você tem. Eu dei todo valor e isso que me deixa bem hoje. Enfim, ela precisava dessas palavras. Ah, e quer saber do meu avô? Que eu contei lá no começo? Foi quem mais chorou e sofreu com isso. O sentimento de culpa que ele sente hoje é a pior coisa do mundo. Acho que minha avó deu uma lição de vida pra muita gente. Por isso que eu a amo mais que tudo.

give me some poison, baby! 

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