terça-feira, 26 de abril de 2011

Mudando as direções

- por Fer

Às vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que fica mudando as direções. Você muda de direção, mas a tempestade persegue você. Você muda de novo, mas a tempestade se ajusta. Você tenta isso cada vez mais, como uma dança sinistra com a morte pouco antes do amanhecer. Por quê? Porque esta tempestade não é algo que chegou de muito longe, algo que não tem nada a ver com você. Esta tempestade é você. Algo dentro de você. Então, tudo que você pode fazer é ceder a isto e permanecer dentro da tempestade, fechando os olhos e tampando os ouvidos para que a areia não entre, e depois atravessá-la, passo a passo. Aqui não há sol, nem lua, nem direção, nem noção de tempo. Apenas areia fina e branca rodopiando no céu, como ossos pulverizados. Esse é o tipo de tempestade de areia que você precisa imaginar.
E você realmente vai ter que atravessar essa violenta, metafísica e simbólica tempestade. Não importa quão metafísico ou simbólico isso seja, não se engane: isso vai cortar a sua carne, como milhares de lâminas de barbear. As pessoas irão sangrar, e você vai sangrar muito também. Quente, sangue vermelho. Você vai pegar o sangue em suas mãos, seu próprio sangue e o sangue dos outros.
E uma vez que a tempestade tenha acabado, você não vai lembrar de como você passou por isso, de como você conseguiu sobreviver. Você não vai ter a certeza, de fato, de se a tempestade realmente acabou. Mas uma coisa é certa: quando você sai da tempestade você não será a mesma pessoa que entrou. É sobre isso que as tempestades são. 
Haruki Murakami (Kafka on the Shore)

give me some poison, baby!

Nenhum comentário: