sexta-feira, 11 de março de 2011

O Início

- por Nanda

Algumas pessoas dizem que se apaixonam à primeira vista. Outras, ao primeiro toque. Mas, na verdade, o que mais fica na memória não é o que você vê nem o primeiro contato, mas sim o cheiro. Quando o cheiro realmente te atrai, até quando você não está nem sequer pensando naquela pessoa, se você sente um cheiro parecido com o dela, seu subconsciente logo lhe trará à cabeça a imagem da pessoa amada. Explica-se melhor por uma história? Pois bem.

E lá está ele, com o olhar perdido em direção a rua, com um sorriso de quem acha que a vida tenta sempre testá-lo. Ele adora isso. Adora desafios. É quando pode se sentir vivo. "Quem nunca levou um soco na cara ou teve apenas suas mãos para se manter vivo em meio a um mundo em que seres não nasceram para ser dóceis diante da presença humana, não se encontrou como homem".

É só mais um de seus pensamentos atravessando a janela.
É sexta. Já guardou sua armadura de trabalho. Já cessou com o que não vê como trabalho, mas viveria disso sem problemas. Sim. Ele toca. Não quer ficar em casa. Quer sentir o vento. Talvez beber algo naquele bar que toca o som que lhe agrada. Veste qualquer coisa. Jeans, camiseta e uma jaqueta. Ele agradece o frio. O bar está cheio. De um lado caras tentando ser super simpáticos, de outro, mulheres e seus escudos. Ele vai até o balcão. Só está interessado no solo de guitarra e na sua bebida agora. “Mas por que aquela garota está encarando?” Ele não percebeu, mas desde que entrou ela está o observando. Não é muito bonito, nem sequer procurou se vestir muito bem pra sair. Ela viu um cara confiante, transpirando segurança. Não está forçando a barra com conversas fiadas como os outros quatro que já chegaram nela. Nem sequer conversou com ele, mas sente que vale a pena. Ele levanta. Está indo na sua direção. Ela pensa: "Ai, meu Deus. E agora?". Ele pega uma cadeira que está próxima e coloca um pouco retirado da mesa dela, senta e não fala nada. Agora ele está bem próximo da banda. No fundo só quer saber o porquê do olhar dela. Ela vê que ele está aproveitando o som, mas finge não notá-lo. Inconscientemente seu corpo fala por ela. Está inquieta. Mexe no cabelo a todo instante. Volta o corpo para ele, mas não o rosto. Ele se diverte com isso. Sabe exatamente o que está acontecendo. Ela é muito bonita. Ele se interessa. É como se soubesse cada próximo movimento dela. Os olhares se encontram. Ele não desvia. Ela mantém por poucos instantes e olha para o chão rapidamente. Um sorriso quase que imperceptível se faz. Já é o suficiente para ele. Vai até ela. Ela se vira para o pequeno palco, como se estivesse prestando atenção na banda. Ele pára do seu lado e faz o mesmo. "Eu adoro essa música" ele diz, sem olhar para ela. "O que? Falou comigo?""Você não acha essa música o máximo?". Ela apenas sorri. Ele estende a mão e se apresenta. Ela faz o mesmo. Ela tem um aperto de mão firme. Olhos nos olhos. Desliza levemente a mão. "Essa é a garota!". A conversa. O jogo. Ela quer parecer difícil. Isso o excita. No fim eles esquecem a bebida, o som, o lugar. Quase esquecem de respirar. Não conseguem parar de olhar para os lábios um do outro. O perfume dela chega quase a provocar seu paladar. Não há mais porque resistirem. Sabem que vão tão longe quanto seu desejo permitir.
Tiago Ferraz Alves 


give me some posion, baby!

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